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Descrição de imagens: pequenos gestos, grande impacto

Por Shirley Beatriz de Castro Coury Corrêa*

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O mundo em que vivemos é cada vez mais visual. Fotos, vídeos, GIFs e ilustrações estão por toda parte, das redes sociais aos sites e aplicativos. Mas, para milhões de pessoas cegas ou com baixa visão, esse universo só se torna acessível quando as imagens vêm acompanhadas de descrições claras e precisas. 

Segundo levantamento do Movimento Web para Todos (MWPT, 2020), em parceria com a Fundação Dorina e a BigData Corp, menos de 1% dos 14,65 milhões de sites ativos no Brasil estão preparados para receber usuários com deficiência visual. Um dos maiores obstáculos é justamente a ausência de descrição de imagens, um recurso simples que faz toda a diferença para garantir inclusão e acesso à informação.

A audiodescrição transforma imagens em palavras e pode ser usada em diversos contextos, desde obras de arte em museus até vídeos compartilhados nas redes sociais. Eliana Cunha, da Fundação Dorina, lembra que esse recurso não é útil apenas para pessoas com deficiência visual, mas também para idosos, pessoas com dislexia e indivíduos com deficiência intelectual (Fundação Dorina Nowill para Cegos, [s. d.]).

Schuabb (2024), ao analisar a Nota Técnica nº 21, de 10 de abril de 2012, do Ministério da Educação, reforça que descrever imagens não é apenas seguir regras técnicas. É também interpretar. Cada palavra escolhida influencia a forma como o leitor percebe o conteúdo, exigindo precisão e sensibilidade para transmitir a mensagem sem distorcer o significado ou comprometer a experiência do público.

Para quem quer começar, existe um caminho simples: formato + sujeito + cenário + ação. Primeiro, identifique o tipo de imagem, se é uma fotografia, ilustração, gráfico, GIF etc. Depois, apresente o elemento principal, descrevendo quem ou o quê está em destaque. Em seguida, é importante situar o leitor no ambiente, mencionando cores, texturas e disposição dos elementos. Por fim, descreva a ação, preferindo verbos no presente para manter a narrativa clara e objetiva. 

Unir técnica e sensibilidade é fundamental, mas é preciso pensar no formato da imagem. Acessibilidade de verdade acontece quando o conteúdo é organizado de maneira que todos possam compreender.

Pequenas adaptações fazem uma grande diferença. Em postagens com legendas longas, ao elaborar as descrições de imagens, priorize o essencial ou divida o conteúdo entre a legenda e o campo de texto alternativo (ALT text). O ALT text é um recurso presente em plataformas de redes sociais dedicado à inserção de textos de descrição de imagens, sendo também utilizado para que mecanismos de busca online indexem o conteúdo da imagem, otimizando os resultados das pesquisas feitas por usuários. Em carrosséis de imagens em redes sociais, inclua um resumo geral na legenda e descreva cada imagem no campo dedicado ao ALT text. Para gráficos, explique qual o tipo de gráfico em questão, o que os dados mostram, o objetivo e, se possível, indique onde encontrar a fonte para a informação. GIFs e figurinhas seguem a mesma lógica, podendo ser detalhados quadro a quadro, quando necessário..

As cores também carregam informação, especialmente para pessoas com baixa visão, daltonismo ou que já tiveram visão plena. Imagens apenas decorativas, por outro lado, não precisam de descrição, evitando sobrecarga nos leitores de tela.

Ao escrever, prefira frases diretas e objetivas. Evite adjetivos opinativos, troque o gerúndio por formas simples (“sorri” no lugar de “está sorrindo”) e mantenha a ordem direta das palavras para facilitar a leitura.

Quanto aos formulários, a acessibilidade vai muito além das imagens. Eles precisam ter campos claros e navegáveis por teclado. Além disso, vídeos e eventos como seminários e palestras devem contar com audiodescrição para transmitir todo o conteúdo visual não narrado.

Descrever imagens é um gesto simples, mas transformador. É abrir caminhos para que mais pessoas participem, compreendam e se sintam incluídas. A acessibilidade não é um detalhe, é um direito e seu exercício começa no cuidado com cada palavra que escolhemos.

 

Referências

FUNDAÇÃO DORINA NOWILL PARA CEGOS. Descrição de imagem: o que você precisa saber para compartilhar conteúdos acessíveis. Fundação Dorina Nowill para Cegos, São Paulo, [s. d.]. Disponível em: https://fundacaodorina.org.br/blog/descricaodeimagem/. Acesso em: 18 ago. 2025.

MOVIMENTO WEB PARA TODOS (MWPT). Número de sites que falham nos testes do Web para Todos cai, mas ainda preocupa. Movimento Web para Todos, São Paulo, 20 maio 2020. Disponível em: https://mwpt.com.br/numero-de-sites-que-falham-nos-testes-do-web-para-todos-cai-mas-ainda-preocupa/. Acesso em: 18 ago. 2025.

SCHUABB, Rafael. Reflexões discursivas sobre a descrição verbal de quadrinhos prescrita pelo MEC. 9ª Arte (São Paulo), Dossiê especial, p. 1-13, 2024.

 

*Shirley Beatriz de Castro Coury Corrêa foi bolsista Fapemig na Editora UEMG, especialista em acessibilidade. Possui graduação em Pedagogia pela UEMG (2017), especialização em Ensino das Artes Visuais e Tecnologias Contemporâneas (2020) e mestrado pela Escola de Belas Artes da UFMG (2023).

 

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