Por: Caroliny Procopio Lima*

Pensar a relação entre educação física, saúde e educação é refletir sobre dimensões fundamentais da vida humana. O corpo não é apenas um reflexo biológico; ele é também um reflexo cultural, social e histórico. A maneira como nos movimentamos, como entendemos o que significa “ser saudável” e como essas ideias chegam às escolas e aos espaços públicos diz muito sobre a sociedade em que vivemos. Por isso, discutir educação física não é apenas debater práticas esportivas, mas compreender um campo de saber que atravessa experiências cotidianas, políticas públicas e até mesmo visões de mundo.
Muitas vezes, a saúde é apresentada de forma normatizada, associada a padrões de corpo e de comportamento que não contemplam a diversidade. Da mesma forma, a educação física escolar corre o risco de se limitar a treinos repetitivos, quando poderia se abrir para a reflexão crítica, para a inclusão e para o diálogo com a cultura. Entender essa complexidade é essencial para repensarmos como o movimento humano pode ser uma ferramenta de emancipação e não de exclusão.
O que está em jogo, portanto, é a possibilidade de enxergar a educação física como prática cultural e social, que se articula com a saúde e com a educação em sentidos mais amplos. Isso significa olhar para o corpo não apenas como máquina biológica, mas como expressão de histórias, memórias, identidades e relações de poder. Significa também considerar que falar de saúde é falar de políticas públicas, de inclusão social, de acesso a espaços de lazer e de condições dignas de vida.
É nesse ponto que obras acadêmicas têm muito a contribuir. A coletânea Educação física: aproximações com saúde e educação, organizada por Juliana Bohnen Guimarães e Sheylazarth Presciliana Ribeiro e lançada recentemente pela Editora UEMG, é um exemplo de como a reflexão crítica pode se materializar em produções coletivas. O livro, fruto de pesquisas e experiências de docentes e pesquisadores da UEMG Ibirité, reúne onze capítulos que passeiam por temas diversos: desde a historicidade da ginástica escolar e seu vínculo com ideais higienistas até as formas contemporâneas de compreender a relação entre exercício físico e sistema imune.
O mérito da obra está justamente em não se limitar a um único eixo. Nesse sentido, entre diversos outros, são abordados temas como a relação entre educação física e saúde – propondo uma alternativa pedagógica que objetiva o rompimento com modelos hegemônicos difundidos no campo prático –, as alternativas ao formato “tradicional” de fazer ciência – por exemplo tomando os saberes da experiência de vida dos sujeitos como forma de ciência válida, que exige rigor e método – e os problemas da avaliação física escolar – frequentemente associada ao desempenho e ao diagnóstico biológico. Essa pluralidade de perspectivas reforça a ideia de que a educação física é um campo múltiplo, atravessado por diferentes saberes e práticas.
O livro, no entanto, não deve ser lido apenas como um compêndio acadêmico. Ao trazer temas tão variados, ele mostra que não podemos pensar saúde e educação sem considerar as disputas políticas e os atravessamentos culturais que moldam o corpo. A mensagem é clara: o corpo não é neutro, a saúde não é neutra, a educação não é neutra. Tudo isso faz parte de um projeto de sociedade que pode incluir ou excluir, emancipar ou controlar.
Ao mesmo tempo, refletir sobre essas questões abre espaço para imaginar novos caminhos. Se o corpo é território de disputa, ele também pode ser território de resistência. Se a saúde tem sido, muitas vezes, apropriada como discurso de normalização, ela também pode ser reinventada como prática de cuidado coletivo e de valorização da diversidade. Da mesma forma, se a educação, em certos momentos, reforça as desigualdades, ela também tem o poder de questioná-las e transformá-las.
Assim, discutir corpo, saúde e educação é discutir o presente e o futuro. É pensar em que tipo de sociedade queremos construir e qual papel o ser humano desempenha nesse processo. E é aqui que obras como a coletânea organizada pelas professoras e pesquisadoras Juliana Bohnen Guimarães e Sheylazarth Presciliana Ribeiro cumprem uma função essencial: não oferecem respostas prontas, mas multiplicam perguntas, tensionam certezas e convidam o leitor a se colocar em movimento – não apenas físico, mas também crítico e reflexivo.
Para ler e baixar a obra completa, basta acessar pelo link gratuitamente: bit.ly/educacao-fisica-aproximacoes.
*Caroliny Procopio Lima é estudante de Letras, com dupla habilitação em Português e Francês, na Universidade Federal de Minas Gerais, e atualmente é estagiária de revisão na EdUEMG

