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Arte contemporânea, arte que faz perguntas

 Por: Thiago José de Alcântara*

 

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Quem nunca foi até uma exposição de arte contemporânea e se perguntou: “Afinal de contas, o que as obras querem dizer?”. A resposta para essa e outras questões relacionadas às novas imagens que conhecemos deve ser outra pergunta, na verdade, um emaranhado delas, feitas pela própria arte: “Quem é você?”, “Como chegou até aqui?” e “Para onde você quer ir?”.

 

Exercitar o pensamento sobre a vida é uma prerrogativa da arte contemporânea. Como os livros, essa arte tem a sua própria edição, que gerencia o que vai comunicar ao mundo. Ela abre um diálogo com o público interessado e que não depende somente de recursos materiais, de objetos, para se estabelecer. É dessa arte a oportunidade de povoar a mente dos seus visitantes, com questões sobre a realidade em que existimos e o futuro que fomentamos. Mora nas imagens figurativas ou abstratas a capacidade de fazer pensar e refletir mediante questionamentos que devem atravessar os sentimentos do público com múltiplas narrativas implicadas neste tempo.

Não que a arte feita há muitas décadas e séculos fale somente da paisagem, das conquistas humanas ou dos ornamentos que nos fazem diferentes uns dos outros. Ela também é relativa à vida. Mas a arte da atualidade, segundo o crítico e filósofo alemão, Boris Groys (1947), abre mão de obras de arte, daquilo que torna a criação visível, ou seja, os seus instrumentos mais tradicionais como telas ou papéis, para investir na documentação da própria arte, aquela que registra as ações e ideias dos artistas e que tem maior ênfase na sociedade. Também é poder dessa documentação das imagens estimular disputas políticas e influenciar o pensamento sobre o passado, revisitando-o de maneira a recontar a história pelo ponto de vista dos oprimidos.

Já que somos apaixonados pelo universo da edição de livros, é importante destacar que a arte contemporânea também dialoga com eles quando os experimenta como suportes e, nesse caso, a aproximação com a vida se dá pela importante presença das publicações no nosso cotidiano. Trata-se dos livros de artista, criações que desafiam a lógica da leitura e que muitas vezes são compostas por textos e imagens ou pela alteração tridimensional do corpo natural dos livros. Essas obras perguntam o que as publicações podem ser e quais experimentos são capazes de habitar a ideia do que é um livro, sem recusar por completo a sua estrutura. A palavra é convidada a expandir o papel mediante a participação ativa do leitor, que, ao manusear um livro de artista, tem nas suas próprias mãos uma criação artística genuína.

O edital 01/2024, da Editora UEMG, é uma oportunidade para a publicação de livros de artista. Eles serão inseridos na coleção Artistas de Minas, que também contemplará a publicação de livros sobre artistas, ou seja, publicações que tratam de acervos e outras informações, como as biografias de seus realizadores. Podem participar artistas, curadores e demais interessados. As inscrições vão até 9 de agosto deste ano e também há um chamado para profissionais da música, no mesmo edital. Clique aqui e verifique mais informações.

A arte da atualidade é uma atividade criativa que faz perguntas para o público, seja por conta de uma aproximação com as políticas sociais ou por reinventar a superfície e o interior dos livros, dentre muitas outras experiências que poderíamos descrever aqui. Mas o mais importante para dialogar com as imagens contemporâneas é entender que todos os seus questionamentos nos colocam no centro da atenção, permitindo uma reflexão sobre a nossa história, nossos hábitos, e sobre a vivência em comunidade. Referências

GROYS, Boris. A arte na era da biopolítica: da obra de arte à documentação de arte. In: GROYS, Boris. Arte, Poder. Trad. Virgínia Starling. Belo Horizonte: UFMG, 2015. p. 73-82.

 

*Thiago José de Alcântara é bolsista Fapemig na Editora UEMG. É mestre em artes e habilitado em pintura pela Escola Guignard, da UEMG. Também é publicitário pela PUC Minas.

 

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