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Um novo momento para a difusão da ciência

Por Sofia Santos*

 

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Entende-se por comunicação científica o exercício de compartilhar ideias, experiências e frutos de pesquisa com outros(as) pesquisadores(as), estudiosos e estudiosas de temas afins. A comunicação científica é, então, um conceito que abrange as informações compartilhadas por e através de um grupo que se reconhece e se identifica dentro de um campo de estudo. Sua importância fica evidente ao pensarmos que, se chegamos até os avanços observados hoje em dia, isso se deu devido a um ciclo contínuo de novas rotas e experimentações feitas a partir de um ponto anterior cujos resultados foram expostos. Recentemente, a pandemia de Covid-19 demonstrou de forma mais clara à sociedade a importância dessa prática, através dos avanços científicos obtidos de forma global em uma colaboração intensa. Nesse aspecto, não faltam instrumentos de disseminação: literatura científica, seminários, congressos, revistas, repositórios virtuais, políticas de acesso aberto, projetos acadêmicos colaborativos, etc. Porém, outra forma de difundir o conhecimento gerado por cientistas tem ganhado cada vez mais espaço no dia a dia da internet e redes sociais: o fortalecimento digital da “divulgação científica”.

Antes de mais nada, é importante elucidar a expressão “divulgação científica”. Diferentemente de sua “irmã", a comunicação científica, a divulgação se volta para o público leigo, podendo se dar através de matérias e entrevistas em jornais, exposições temáticas, atividades abertas à sociedade, newsletters, podcasts, canais em redes sociais, entre outros.

Uma busca pelas redes sociais ou em plataformas de vídeo como o YouTube demonstra que, para além de páginas institucionais, há um grande número de perfis onde profissionais da ciência e/ou comunicadores se dedicam, de forma responsável e ética, a destrinchar conceitos científicos; explicar em linguagem informal as notícias sobre as últimas descobertas no campo da saúde, física e biologia; oferecer um olhar acadêmico sobre os conflitos observados nos campos sociais e, até mesmo, jogar por terra os mitos difundidos sobre questões como produtos de beleza, estética e nutrição. Em abril de 2021, o jornal Nexo fez uma notícia tratando do sucesso de divulgadores científicos no X (antigo Twitter), mostrando o quanto alguns tinham resultados significativos de engajamento. Embora aquele momento (em plena pandemia de Covid-19) justifique o maior interesse da população no tipo de informação propagada, esse fato demonstra que há meios para falar de ciência de forma ampla e acessível.

Os criadores de conteúdo dessa vertente têm diferentes formas de se comunicar. Alguns se dedicam a lives onde debatem com seus pares sobre as práticas utilizadas para se alcançarem dados baseados em evidências, permitindo que mais pessoas compreendam o caminho percorrido até as conclusões sólidas. Outros disponibilizam vídeos onde respondem às dúvidas mais comuns enviadas pelos seguidores. Ainda há aqueles que investem em artes gráficas de caráter explicativo, os que empregam humor, os que disponibilizam textos ou que compartilham suas experiências profissionais. Por todas essas trilhas é possível estabelecer uma intimidade com o público, o que leva a uma relação de confiança e, assim, pode fazer do cidadão comum um potencial multiplicador de informações científicas. Em alguns casos, esses comunicadores se tornam referência para jovens profissionais, pesquisadores ou não, que estão iniciando carreira e também para discentes. Esse movimento também é oportuno para que instituições públicas, como universidades e órgãos relacionados, compartilhem sua produção e mostrem que a academia não é um lugar apenas de expressões estranhas e indecifráveis ao cidadão comum. Um exemplo disso são as muitas editoras universitárias, como a própria EdUEMG, que investem em suas redes sociais trazendo conteúdos que dialogam de maneira mais leve com o público em geral. Séries temáticas que se relacionem com os temas das publicações, depoimentos de autores(as), dicas e blogs, como esse que abriga esse artigo, são materializações disso. A UEMG já conta com um podcast próprio para divulgar os projetos de alguns de seus docentes. O programa, chamado “Saber em Movimento”, conta, na sua 2ª temporada, com uma coluna dedicada a divulgar a produção da editora.

Muito tem se falado, nos últimos anos, sobre o risco estabelecido pela difusão das fake news. Os mesmos meios digitais que favorecem a divulgação de informações relevantes para a população têm sido usados para espalhar conteúdos perniciosos que já têm alcançado resultados alarmantes, como se pode observar nos questionamentos acerca de vacinas e no consumo de “fórmulas milagrosas” que por vezes se mostram fatais. Podemos citar, também, a persistente estigmatização de grupos sociais minoritários e a desconsideração sobre a degradação ambiental. Nessa realidade, perceber a profusão desses perfis destinados a combater conteúdos falsos é um alento.

Para enfrentar esse cenário onde imperam narrativas que confundem e enfraquecem o senso crítico da população, fragilizando as gerações futuras, é importante que tanto a “comunicação científica” quanto a “divulgação científica” sejam incentivadas e caminhem lado a lado, seja através de perfis ligados a universidades ou instituições de pesquisa, seja através de criadores de conteúdo independentes. É sempre válido ressaltar que se valorize cada vez mais a representatividade e diversidade dos responsáveis pela comunicação, inclusive de quem está nos laboratórios e bastidores. Ademais, cabe desconstruir a rigidez que se observa no meio acadêmico, para que as ações de difusão da ciência sejam vistas com a relevância que merecem e planejadas de acordo com quem se deseja atingir. De um lado, teremos a intensificação na colaboração coletiva para o desenvolvimento da ciência nacional, do outro, haverá uma população mais bem informada e saudável, mais responsável e menos preconceituosa com o novo e o diferente, seja em relação aos conceitos abstratos ou às situações práticas do cotidiano.

Fonte: O sucesso dos cientistas influencers no Twitter em 2021. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2021/04/02/o-sucesso-dos-cientistas-influencers-no-twitter-em-2021

 

*Sofia Santos é designer formada pela Escola de Design da UEMG, com pós-graduação em Comunicação Estratégica pela PUC-Minas. Servidora efetiva da universidade, atuou por vários anos na Assessoria de Comunicação e atualmente trabalha na Editora UEMG.

 

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