Por: Caroliny Procopio Lima*
Conduzido pela Nielsen BookData, em parceria com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e a Câmara Brasileira de Livros (CBL), o relatório Produção e vendas do setor editorial brasileiro: ano base 2024, publicado na primeira metade de 2025, traça um retrato abrangente do mercado editorial brasileiro no último ano. A pesquisa, que apresenta números reais das etapas de produção, vendas e distribuição tanto de livros impressos quanto de livros digitais, mostra uma indústria que, embora apresente crescimento em termos nominais, enfrenta importantes desafios, com recuo real, desde 2006, de 44% do faturamento em vendas realizadas ao mercado, um cenário que vem preocupando editoras e profissionais do mercado. Em contrapartida, os formatos digitais, cada vez mais, impulsionam vendas, consolidando-se como um eixo estratégico para o futuro da leitura no país.
Em números absolutos, a indústria editorial produziu cerca de 44 mil títulos e movimentou mais de 366 milhões de exemplares impressos, considerando edições inéditas e reimpressões. As vendas totais – incluindo o setor público e o varejo – alcançaram 361 milhões de exemplares, com faturamento de R$6,6 bilhões. O mercado respondeu por R$4,2 bilhões, enquanto o governo foi responsável por R$2,4 bilhões em aquisições. Porém, ainda que o crescimento nominal nas vendas tenha sido de 3,7% em relação a 2023, a inflação de 4,83% indica uma queda real de 1,1%, revelando recuo do setor em termos reais nas vendas realizadas.
Outro ponto de destaque da pesquisa é o crescimento significativo do conteúdo digital, que teve um salto nominal de 21,6% (16%, quando levamos em conta o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA). Esse avanço se deve, sobretudo, ao aumento no consumo por meio de bibliotecas virtuais e assinaturas de plataformas de leitura, que representam 44% do faturamento no segmento digital. As edições de livros em formatos digitais totalizaram, então, no ano de 2024, 135 mil títulos, sendo 91% e-books e 9% audiobooks – este último formato apresentando, inclusive, um crescimento de quatro pontos percentuais em relação a 2023.
Apesar de o livro digital ainda representar apenas 9% da receita total do setor, seu crescimento acelerado aponta para transformações profundas nos modos de produção, circulação e consumo de conteúdo editorial no Brasil. O desempenho do digital foi fundamental para amenizar a retração que o setor teria registrado caso contasse apenas com as vendas do impresso. Enquanto o crescimento nominal do mercado como um todo foi de 3,7%, o segmento digital avançou 32,6% no mesmo período, evidenciando um dinamismo muito superior. Além disso, analisando a série histórica da pesquisa realizada pela Nielsen BookData, registra-se um crescimento de 200% do segmento de conteúdo digital desde 2019. Essa expansão demonstra que o digital já não pode ser visto apenas como um complemento, mas sim como uma ferramenta de crescimento e renovação do mercado editorial brasileiro.
Entre os destaques do relatório, o setor “Científico, Técnico e Profissional” (CTP) liderou as variações positivas tanto no faturamento quanto nas unidades vendidas de e-books, mostrando o potencial desse nicho para atrair novos leitores e manter um público especializado. Além disso, o crescimento expressivo de 64% no faturamento com planos de assinaturas confirma a consolidação de modelos de acesso contínuo, nos quais o leitor pode explorar um acervo vasto com custo relativamente baixo, o que favorece a fidelização de leitores e o aumento no consumo.
O contraste entre os resultados do impresso e do digital chama a atenção, isso porque, enquanto o primeiro enfrenta um crescimento tímido, sujeito a retrações quando ajustado pela inflação, o segundo registra altas consistentes e sustentadas. Essa diferença reforça que, para evitar quedas mais acentuadas no faturamento, o setor precisa investir não apenas na oferta de títulos digitais, mas também em estratégias de divulgação, precificação e ampliação de canais de divulgação online.
Além do impacto econômico, o avanço do digital amplia o acesso à leitura. E-books e audiobooks podem chegar instantaneamente a qualquer região, eliminando barreiras logísticas e reduzindo custos. Além disso,os formatos digitais favorecem as tecnologias assistivas, ampliando e favorecendo as possibilidades de acesso à leitura para pessoas com deficiência. Portanto, em um país de dimensões continentais e com desigualdade de acesso ao livro físico, essa característica dos formatos digitais se torna ainda mais estratégica para a inclusão, para a democratização do conhecimento e para a formação de novos leitores.
Em suma, as pesquisas sobre o mercado editorial brasileiro deixam cada vez mais evidente a centralidade que os livros digitais têm assumido não apenas para o desempenho das vendas, mas para toda a cadeia produtiva que envolve a publicação de livros e o seu encontro com o público. Resta às editoras assimilarem as mudanças na dinâmica do mercado, do contrário, o cenário, que já é desafiador, pode se tornar insustentável para muitas pequenas e médias editoras brasileiras.
Referências
EM quase duas décadas, mercado editorial encolhe 44%. PublishNews, [s. l.], 08 jul. 2025. Disponível aqui. Acesso em: 11 ago. 2025.
NIELSEN BOOKDATA. Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro: ano base 2024. São Paulo: Sindicato Nacional dos Editores de Livros; Câmara Brasileira do Livro, 2025. Disponível aqui. Acesso em: 17 jul. 2025.
*Caroliny Procopio Lima é estudante de Letras, com dupla habilitação em Português e Francês, na Universidade Federal de Minas Gerais.