Por Amanda Rabelo Chaves* e Antônio de Andrade**
A iniciação científica (IC) é uma experiência que promove a integração entre ensino e pesquisa, estimulando a construção de uma postura crítica, analítica e inovadora, sendo um dos principais caminhos para despertar o interesse dos estudantes pelas carreiras em ciência e tecnologia (C&T). Por proporcionar contato direto com a prática investigativa e estimular a curiosidade intelectual e o desenvolvimento de habilidades essenciais para a vida acadêmica e profissional, no Brasil, a IC é um instrumento fundamental para a formação de novos pesquisadores.
Considerando esse potencial, a experiência em IC é um tema de grande interesse para pesquisas sobre educação em C&T, porém ainda pouco explorado em suas diferentes possibilidades, nuances e implicações para as trajetórias de vida dos estudantes, especialmente dos mais jovens e em contextos de maior vulnerabilidade social.
Atentas a essas lacunas, no mais recente lançamento da Editora UEMG, Experiências da iniciação científica no ensino médio: trajetórias biográficas de jovens das favelas do Complexo da Maré do Rio de Janeiro, as autoras Shirley de Lima Ferreira Arantes e Simone Ouvinha Peres analisaram entrevistas realizadas com seis jovens que participaram do Programa de Vocação Científica da Fundação Oswaldo Cruz (Provoc-Fiocruz/RJ), apresentando os relatos das experiências dos estudantes do ensino básico em projetos de pesquisa.
O Provoc é uma iniciativa voltada para despertar e incentivar o interesse de estudantes do ensino médio pela pesquisa científica. Criado em 1986, ele seleciona jovens para participar de atividades em laboratórios, orientados por pesquisadores experientes. Ao unir formação acadêmica e prática científica, o Provoc, além de servir como uma introdução dos jovens estudantes ao universo da ciência e tecnologia no contexto acadêmico, contribui para a democratização do acesso ao conhecimento e para o fortalecimento da ciência brasileira desde a educação básica.
Assim, Arantes e Peres, mobilizando o conceito de disposições sociais, a partir de referências como Pierre Bourdieu, Bernard Lahire e Maria da Graça Setton, buscaram compreender se as experiências de IC no ensino médio, aliadas às trajetórias de vida, podem ter impactado as escolhas profissionais desses seis jovens.
Afastando-se de uma abordagem determinista, discute-se como as disposições sociais, relacionadas a questões como incentivo da família, influência da cultura de massa e centralidade da figura dos professores-orientadores, podem se configurar em disposições “consonantes” ou “dissonantes” dos jovens com a cultura científica e propiciar, ou não, a opção de seguir uma carreira na área de C&T.
A obra mostra, ainda, como a pesquisa acadêmica é uma prática essencialmente colaborativa. As relações estabelecidas com os orientadores desempenharam papel importante para que quatro dos jovens entrevistados permanecessem na trajetória de carreiras em C&T, evidenciando que a ciência é ainda mais valiosa quando é inclusiva. O processo de construção de significados em torno desse campo decorre, em grande medida, do reconhecimento e do apoio proporcionados pelos orientadores, que possibilitam aos jovens pesquisadores compreenderem a si mesmos como agentes fundamentais na produção científica e contribuírem de forma efetiva para o avanço do conhecimento.
Trata-se, portanto, de uma obra inovadora por sua contribuição em suprir, em alguma medida, uma das lacunas existentes na área de pesquisa sobre educação em ciência e tecnologia, particularmente no que diz respeito às experiências de jovens em contextos de maior vulnerabilidade social com a iniciação científica no ensino médio.
Sublinham as autoras que a obra é indicada para um público amplo, desde os jovens, seus pais e responsáveis, interessados em informações sobre como seguir nas áreas da C&T, até professores da educação básica e superior, instituições de ensino e empresas que têm interesse em investir em programas de IC e em desenvolver estratégias mais eficazes de incentivo às carreiras científicas.
Com a leitura da obra, não ficam dúvidas sobre a relevância da IC para o desenvolvimento pessoal de jovens estudantes e para a ampliação dos seus possíveis horizontes profissionais. Então, se você tem interesse por esta temática, Experiências da iniciação científica no ensino médio: trajetórias biográficas de jovens das favelas do Complexo da Maré do Rio de Janeiro é uma obra altamente recomendada e pode ser acessada e baixada gratuitamente!
Confira e compartilhe com outras pessoas que compartilham do interesse por essas experiências. Basta acessar o link: http://bit.ly/experiencias-da-ic.
*Amanda Rabelo Chaves é formada em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas) e atualmente é estudante na Universidade Federal de Minas Gerais (FALE/UFMG), onde estuda Tradução Português-Inglês desde 2022.
**Antônio de Andrade é revisor-chefe da Editora UEMG e idealizador da Livr_: Impressões, projeto de publicações independentes criado em 2021.